• No ritmo da adolescência



Com a virada do último século, tornaram-se evidentes certas mudanças no comportamento e ideologia das pessoas. Exemplo claro para tal afirmação encontra-se materializado na música, que pertence ao seleto grupo das artes mais adoradas pela sociedade humana.

Do âmbito de vista de pessoas simplórias, é provável que não se tenha ciência da verídica representatividade musical nas vidas dos indivíduos humanos, principalmente aos pertencentes à classe jovem. Tal influência encontra-se em índices de crescimento cada vez mais relevantes, e, caso seja necessária comprovação, basta que perguntemos a um grupo de dez adolescentes quais dos entrevistados têm ao menos uma preferência musical. Se a lógica for mantida, não seria espanto ouvirmos que todos gostam de música.

Até esse contexto tudo se encontra dentro de uma normalidade esperada, porém, a partir do momento em que o gosto por determinado ritmo induz o jovem- mesmo que indiretamente– a comprometer as bases da sociedade, os problemas de fato se iniciam.

A primeira exemplificação que vem à tona quando se aborda tal circunstância é a realidade na qual se encontra o ritmo brasileiro conhecido como “funk”. Com o perdão dos ávidos e aficionados por esse gênero musical, mas o “funk” é a prova viva de que “Música Brasileira” e “música brasileira” estão longe de ser a mesma coisa, afinal, algo que pregue a vulgarização de mulheres, banalização do sexo e comportamentos violentos merece receber a mesma nomeação que gêneros renomados como a MPB ou a Bossa Nova?

A adolescência é o momento de nossas vidas marcado primordialmente pela descoberta de valores afetivos e ideológicos, além da formação de nossas personalidades. Agora imagine, o que poderemos esperar de um jovem que ouve frequentemente letras musicais que fazem alusão a roubos ou mesmo violência doméstica? Será que teremos futuramente uma pessoa compromissada em fazer o bem? Esse jovem saberá diferir o certo do errado? A realidade atual nos submete a crer que não!

Uma parcela considerável dessa nova conspiração musical que circunda a cabeça dos jovens se deve ao que chamamos de inclusão digital, onde barreiras até então desconhecidas puderam ser desvendadas. De certo modo, novos caminhos são sempre bem vindos, no entanto, pelo fato de no Brasil já não se produzir música como antigamente, muitos desses adolescentes recorreram à internet para conhecer e mesmo embasar-se em artistas estrangeiros, o que tem contribuído gradativamente para a fragilização do mercado nacional neste ramo.

Tal atitude, embora não seja a melhor a se tomar, não deveria ser digna de julgamentos, pois as letras das músicas nacionais estão se tornando tão clichês que já são motivos de pena, ou será que sou o único que não mais aguenta ouvir o (a) cantor (a) comparando seu amor ao tamanho do oceano e dizendo que a pessoa amada é tão bela quanto o azul do céu?

Comparado ao “funk” e outros ritmos ouvidos com veemência, hei de concordar que a nova sensação do momento, o Sertanejo Universitário, de fato apresenta canções mais leves, o que possivelmente é a melhor das justificativas para o sucesso de tal gênero, todavia, a bipolaridade constante que se manifesta na mente dos jovens pode fazer com que facilmente esse gênero de música seja só mais um, ou mesmo caia em esquecimento, já que, como citado anteriormente, a demasia no uso de clichês é algo que em determinados momentos torna-se altamente desagradável.

As relações entre os adolescentes e a música estão cada vez mais afincas, uma pena as consequências disso não serem majoritariamente positivas. O grande problema é que não há muito o que se possa fazer, afinal, exigir melhores gostos musicais de um povo que mal sabe cantar o hino do próprio país seria tão inoperante quanto estudar para uma prova faltando poucos minutos para a realização da mesma.

Critique Conosco